CIEB lança o primeiro relatório da ferramenta Guia Edutec, maior banco de dados brasileiro sobre uso de tecnologia na educação pública.
O CIEB realizou, nesta quinta-feira (15/12), um webinar para apresentar o Relatório Guia Edutec – Diagnóstico do Nível de Adoção de Tecnologia nas Escolas Públicas Brasileiras em 2022. O documento é um retrato da adoção de tecnologias na educação pública brasileira realizado a partir dos resultados da ferramenta Guia Edutec Diagnóstico, plataforma online e gratuita.
“Quando o CIEB iniciou seus trabalhos identificamos que era muito difícil medir onde estávamos nessa jornada de transformar as instituições de ensino em escolas conectadas. Então, buscamos fontes e conhecer a realidade brasileira para desenvolver essa ferramenta que pudesse olhar para esses quatro pilares: Visão, Competências, Recursos Educacionais Digitais e Infraestrutura. Além de pensar nos diferentes atores e diferentes usos para construir uma gradação de níveis de adoção de tecnologias, onde cada nível apresenta um cenário” contou Lúcia Dellagnelo, diretora-presidente do CIEB, durante a abertura do evento.
Entenda mais sobre o método de avaliação do CIEB e as quatro dimensões de uma escola conectada.
A análise se refere ao período em que o Guia Edutec ficou disponível no PDDE Interativo, ferramenta de apoio à gestão escolar desenvolvida pelo Ministério da Educação (MEC), em parceria com as Secretarias de Educação, entre 01 de janeiro a 30 de outubro de 2022. Cerca de 104 mil escolas, que equivalem a 75% das unidades escolares do Brasil, responderam ao questionário.
“O documento é extremamente fundamental para que a gente prospecte outras ações, iniciativas, políticas, programas e projetos com bases bastantes sólidas para auxiliar as nossas escolas dentro dessa temática”, afirmou Mauro Luiz Rabelo, Secretário de Educação Básica do MEC.
O objetivo do Relatório é proporcionar maior eficácia no planejamento, execução e monitoramento das políticas públicas de tecnologia educacional nos âmbito federal, estadual e municipal.
O retrato da adoção de tecnologias nas escolas públicas
Para avaliar o nível de implementação de tecnologia nas redes de ensino, o Guia Edutec Diagnóstico considera quatro dimensões: Visão, Competência, RED´s (Recursos Educacionais Digitais) e Infraestrutura. Atualmente a média nacional de escolas está no nível básico nas três primeiras dimensões e em emergente na última. Veja os dados em tempo real.
O Relatório Guia Edutec mergulha nesses dados e se aprofunda em cada uma das dimensões para gerar uma análise concreta do cenário da educação em relação às tecnologias, a fim de servir de referência para gestões educacionais.
“A gente ainda tem um grande desafio para todas as dimensões, especialmente no nível de infraestrutura” comentou Carolina Miotto, Gerente Executiva do CIEB.
Confira alguns destaques do relatório comentados durante o evento.
Tecnologia é considerada importante na prática pedagógica, mas não tem implementação concreta
A Visão é a dimensão que se refere à percepção do potencial de uso de tecnologias digitais na educação, ou seja, como os atores escolares enxergam as tecnologias digitais e seus impactos nos processos de ensino, de aprendizagem e na gestão.
Para analisar o resultados desse aspecto foram considerados os indicadores abaixo:
Segundo o relatório, 81% dos/as gestores/as das escolas públicas brasileiras consideram que o uso das tecnologias digitais, além de impactar propositivamente os processos de ensino e de aprendizagem, pode melhorar a qualidade e equidade educacional.
Entretanto, 46% declararam que não há nenhum programa ou projeto implementado em suas escolas para promover a integração das tecnologias digitais nas práticas pedagógicas.
“O que a gente consegue analisar através desses dados é que existe uma crença na percepção do uso de tecnologias para o aprendizado e gestão, mas não necessariamente essa crença se traduz de fato em práticas aplicadas.” concluiu Júlia Borges, Especialista em Educação e Tecnologia do CIEB.
Formação não está impactando o nível de desenvolvimento de competências digitais dos docentes
Quando analisada a dimensão de Competências, que indica a capacidade dos atores escolares de utilizarem tecnologias digitais nos processos de ensino, de aprendizagem e de gestão, são identificados desafios na realização de formações realmente efetivas para promover a sua incorporação na prática docente.
“O diagnóstico Guia Edutec em si, que é respondido pelos diretores das escolas, abrange mais de 30 indicadores. No relatório estamos dando destaque a alguns indicadores. São aqueles que chamam mais a nossa atenção nos resultados” explica Larissa Santa Rosa, Especialista em Educação e Tecnologia do CIEB.
Em metade dos casos as formações realizadas pelas escolas não se refletem em impactos reais do dia a dia. De acordo com o relatório, 45% da gestão escolar declarou que as formações continuadas de docentes gerou pouco ou nenhum impacto nas práticas pedagógicas na escola e 43% afirma que os professores(as) apresentam habilidade e competências digitais em níveis iniciais.
“36% dos diretores declaram que os docentes usam RED’s para finalidades muito básicas. Usar uma planilha, uma apresentação para o preparo de aulas expositivas. Então, tem uma coerência quando falam de habilidades iniciais com a finalidade que esses professores usam o Recursos Educacionais Digitais” explana Larissa.
Disponibilização de repositórios não é suficiente para uso qualificados das tecnologias
A maioria das secretarias de educação, 64% delas, disponibiliza repositórios de Recursos Educacionais Digitais (RED´s) para uso das escolas. As REDs são a dimensão que abarca os conteúdos, ferramentas e/ou plataformas em formato digital para fins educacionais (pedagógicos e/ou administrativos). Porém, apenas 16% declaram que os repositórios são utilizados ativamente pela maior parte dos professores.
Em conformidade com dados apresentados na dimensão de Competências, 38% da gestão escolar afirma que docentes buscam apoio para selecionar RED’s. “A gente enxerga que tem um caminho com alguns desafios para avançar no desenvolvimento de competências digitais dos professores e o uso ativos dos Recursos Educacionais Digitais que possibilita a inovação da prática pedagógica” concluiu Larissa.
Falta de infraestrutura limita uso de tecnologias na educação
A Infraestrutura trata da disponibilidade e da qualidade de computadores e outros equipamentos, do acesso e da qualidade de conexão com à internet nas escolas e também considera os atores usuários qualificados dessa infraestrutura.
“Hoje nas escolas é muito comum que a internet não esteja acessível em todos os espaços. No máximo ali no laboratório de informática e na biblioteca. Isso acaba limitando as possibilidades pedagógicas do uso dessa internet”, afirmou Raquel Raquel Costa, Especialista em Educação e Tecnologia do CIEB.
78% das escolas relatam que, se uma turma inteira se conectar simultaneamente à rede wi-fi da escola, a internet para de funcionar completamente, ou não atende às necessidades pedagógicas mínimas da escola. E apenas 3% garantem uma proporção mínima de 1 dispositivo para cada 5 estudantes. Além disso, 33% das escolas públicas brasileiras não disponibilizam dispositivos para uso dos/as professores/as.
“Temos um desafio enorme em relação a qualidade de conexão das escolas, e a gente tem um desafio ainda maior quando olhamos para a questão dos dispositivos. Principalmente para utilização dos estudantes”, refletiu Raquel Costa.
As quatro dimensões de uma escola conectada precisam estar em equilíbrio
No ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, que considera a Adoção de Tecnologias da Informação como um dos pilares de competitividade, o Brasil se encontra na 80º posição. A educação brasileira ainda não incorporou a tecnologia nem como uma ferramenta de aprendizagem e nem em aprender sobre ela.
“A pandemia mostrou que a tecnologia pode sim ser uma aliada, mas ela tem que ter qualidade de uso”, comentou Lúcia Dellagnelo. Os dados apontados pelo relatório reforçam a ideia de que é necessário olhar para diversos fatores com objetivo de utilizar a tecnologia a favor do ensino.
“Para que a tecnologia traga de fato qualidade e equidade para nossa educação é necessário que a gente faça uma transformação sistêmica. Isso depende de políticas estruturadas tanto no âmbito federal, como estaduais e municipais nas quatro dimensões de uma escola conectada”, disse Maúna Rocha, Gerente de Inovações e Tecnologias Educacionais do CIEB, durante as considerações finais
Lúcia encerrou o evento alertando para a importância de insumos para infraestrutura tecnológica a fim de viabilizar escolas, de fato, conectadas. “Se não fizermos um investimento em infraestrutura, ela continuará a ser o gargalo de um política nacional de tecnologia educacional.”
Baixe o Relatório Guia Edutec e veja a análise completa.
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Publicado em: Notícias Gerais