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Aurea Vieira: “A pandemia mostrou que precisávamos nos abrir para as tecnologias digitais”

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Coordenadora de Mídias e Tecnologias Educacionais da Secretaria Municipal de Educação de Joinville (SC), Aurea Vieira destaca a importância de inserir os/as estudantes na cultura digital e revela os caminhos para atingir esse resultado

Qualquer processo de transformação envolve desafios. Porém, quando é possível elaborar um plano e estabelecer metas baseadas em dados reais, as mudanças começam a acontecer de fato.

Essa é a visão de Aurea Vieira, coordenadora de Mídias e Tecnologias Educacionais da Secretaria Municipal de Educação de Joinville (SC).

A rede de 158 escolas e 72 mil estudantes é uma das 14 redes públicas integrantes do programa ‘Gestão de Inovação e Tecnologia na Rede de Ensino’, realizado pelo CIEB em parceria com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e o Instituto General Motors (IGM).

A finalidade do projeto é apoiar e incentivar a incorporação de tecnologias digitais na prática pedagógica, ao mesmo tempo em que desenvolve líderes educacionais para a transformação digital das redes (leia mais aqui).

Nesta entrevista, a gestora destaca a relevância das metodologias e instrumentos que ajudaram a rede a construir um planejamento de inovação –  e que agora permitem que ele seja colocado em prática – , e enfatiza que a finalidade do processo é tornar o ensino mais contemporâneo. Confira.

 

Qual era a situação da rede municipal de Joinville antes do início do programa e o que os motivou a participar da iniciativa?

A pandemia mudou muita coisa na rede municipal de Joinville, pois o fechamento das escolas mostrou que precisávamos nos abrir para as tecnologias digitais, colocar as escolas em contato umas com as outras, dar a possibilidade de os alunos desenvolverem projetos dentro e fora da escola. Fortalecemos então um processo de transformação digital, e esse é o principal motivo da nossa parceria com o CIEB.

Este é um processo que parte dos seguintes questionamentos: o que os nossos alunos precisam, lá na escola, para ter uma aula conectada com o tempo em que vivem e com o mundo digital?

A parceria está sendo fundamental, principalmente em termos de embasamento técnico. Muitas vezes, partíamos do senso comum ou da teoria para explicar por que um grupo de escolas não usava tecnologias ou, o inverso, por que uma determinada escola era inovadora. Com a expertise do CIEB, ganhamos condições de analisar criticamente a realidade escolar, além de adotar soluções já testadas e adequadas à realidade da rede pública de outros municípios.

 

Quais são os principais aprendizados até o momento?

Temos clareza de que não adianta colocar dispositivos dentro da escola sem um plano de trabalho definido, sem saber aonde queremos levar os alunos. Os professores também precisam de formação para aprender a incorporar os recursos de uma maneira que faça sentido, que esteja conectada com os objetivos de aprendizagem. Isso só é possível com um programa de formação orientado ao desenvolvimento de competências digitais.

A formação continuada de professores é uma ação contínua em nossa rede; não pode parar nunca. O professor precisa participar de grupos de formação, refletir sobre suas práticas, praticar a aprendizagem entre pares. Isso faz parte da nossa concepção do que é transformar uma sala de aula.

 

Além de desenvolver novos conhecimentos, vocês também estão usando várias ferramentas para iniciar, de fato, a transformação desejada. Como tem sido essa experiência?

Tem sido interessante, pois, como disse anteriormente, muitas das nossas conclusões ou decisões eram tomadas com base na vivência do dia a dia; não tínhamos dados concretos. Por exemplo, nós já planejávamos colocar rede wifi nas escolas, mas não sabíamos se a banda que seria contratada seria suficiente para as escolas. E não sabíamos justamente porque não tínhamos e não temos experiência com isso. Nesse contexto, os instrumentos do CIEB nos dão um norte, além de segurança para fazer os investimentos. O poder público não pode comprar antenas para as escolas e depois descobrir que aquele modelo de antena não é adequado.

Os instrumentos também nos dão dados concretos para tomar decisões. Nós já calculávamos que nossas escolas estavam em um nível intermediário de adoção de tecnologias, mas agora temos um dado palpável para validar isso.

 

Além de ajudar na tomada de decisão, as ferramentas também mostram de onde a rede está partindo e o que precisa ser feito. O que o diagnóstico mostrou em termos de desafios para a rede de Joinville?

O nosso desafio é conquistar o equilíbrio entre as quatro dimensões [visão, competências, infraestrutura e recursos educacionais digitais], pois comprar notebooks, tablets, kits de robótica, etc. é relativamente fácil. Mas são as propostas pedagógicas que vão dar sentido ao uso que será feito desses dispositivos. Nesse contexto, é preciso alinhar o plano de investimentos com a proposta pedagógica e com o plano de formação de professores. Do contrário, os equipamentos serão usados de maneira improdutiva ou simplesmente não serão usados. Teremos laboratórios bonitos nas escolas, mas eles não vão causar a transformação nas aulas e não serão instrumentos para a construção conhecimento. Repensar a educação e a sala de aula, e desenvolver competências digitais são aspectos extremamente desafiadores.

Quais são as expectativas da rede com os próximos passos do programa?

Agora que sabemos qual o nível de adoção de tecnologias das nossas escolas, temos metas para avançar com os nossos planos, que, aliás, se tornaram muito mais concretos. Sabemos, por exemplo, o quanto precisamos investir na parte de infraestrutura para as escolas saírem do intermediário.

A construção de um planejamento de longo prazo também nos ajudará a não perder o foco, o que acontece muitas vezes por causa das mudanças de gestão.

A finalidade de tudo isso, desses investimentos em tecnologias, infraestrutura, formação de professor e recursos digitais, é preparar os nossos alunos para a cultura digital. No século 21, não dá para pensar em alfabetização sem pensar em alfabetização digital.

 

Este processo é viável para outras redes, em sua opinião?

O que a gente enxerga aqui na secretaria é que não dá para resolver todas as questões de uma só vez e muito menos de maneira isolada. Em primeiro lugar, a equipe pedagógica precisa estar em diálogo constante com as demais áreas da secretarias, como as equipes administrativa e financeira. Se essas equipes não mantiverem um diálogo constante, as propostas do plano de inovação não sairão do papel.

Sendo assim, o conselho que eu daria para as outras secretarias é que façam um plano de investimento e transformação digital com a participação de todas as equipes da secretaria. Também é importante contar com parceiros com expertise na área, que estudam o tema, que já aplicaram as mesmas soluções em outros municípios. Uma parceria como essa do CIEB ajuda muito nesse processo, dão suporte nas tomadas de decisões, além de nos ajudar a chegar mais rápido aos resultados desejados.

 

 

 

 

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