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Charles Alexandre: “Hoje é imprescindível  a escola  ter uma internet de qualidade”

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Analista de Educação da Secretaria Municipal de Educação de Juazeiro (BA), Charles Alexandre destaca a importância de melhorar a infraestrutura das escolas e, principalmente, de mobilizar a rede para a incorporação das tecnologias digitais na prática pedagógica

Com 138 unidades e 37 mil estudantes, a rede municipal de Juazeiro (BA) conseguiu lidar relativamente bem com os desafios do ensino remoto. Mesmo com poucos recursos, a Secretaria Municipal de Educação viabilizou uma série de iniciativas para dar continuidade às aulas usando as tecnologias digitais, o que levou ao reconhecimento em nível estadual através do Prêmio Band Cidades Excelentes.

Uma parte desse resultado se deve a um trabalho de anos que vem sendo feito em Juazeiro para apoiar os/as docentes no uso das tecnologias digitais na prática pedagógica. Esse trabalho tem bons resultados, mas ainda precisa de melhorias, como reconhece Charles Alexandre, analista de Educação da secretaria. 

A rede está participando do programa ‘Gestão de Inovação e Tecnologia na Rede de Ensino’, realizado pelo CIEB em parceria com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e o Instituto General Motors – IGM (leia mais aqui), e diagnosticou a necessidade de investir em quatro frentes simultaneamente: visão, competências, recursos educacionais digitais e infraestrutura. 

Como em muitas redes de ensino, a infraestrutura é a dimensão que mais demanda atenção. Não há computadores em número suficiente e os que existem estão defasados – em alguns casos, parados. Mas esta é uma realidade que já começou a mudar, com a atual gestão municipal em parceria com o suporte dado pelo CIEB, para auxiliar estudantes e docentes durante o processo de ensino e aprendizagem, investiu na aquisição de notebooks nas escolas da sede, que ofertam o ensino fundamental I e II (1º ao 9º ano).   Todas as escolas precisam de equipamentos e internet de qualidade, destaca Charles Alexandre na entrevista que segue. Confira. 

 

Como você avalia a experiência da rede de Juazeiro com o programa de inovação e tecnologia?

A parceria está muito boa para a rede, pois conseguimos enxergar onde precisamos avançar. E precisamos melhorar em várias áreas – e não apenas na infraestrutura – para aprimorar o acesso do professor e do aluno à tecnologia. Enxergar esses aspectos foi muito bom, além de ajudar a sensibilizar as equipes gestoras da secretaria. É como se a ferramenta nos desse uma base para fazer investimentos nos lugares certos.

Qual é o tamanho do desafio que a rede de Juazeiro tem pela frente?

A infraestrutura é um dos pontos mais críticos, pois temos computadores que estão praticamente parados. Realmente, necessitamos de novos investimentos. Também temos deficiências em termos de conectividade, pois a velocidade da internet não atende à nossa necessidade. Na sede a velocidade de internet atinge 100 Mbps, mas na zona rural é 10 Mbps em algumas regiões, e a gente sabe que isso não é suficiente para a estrutura que a educação conectada exige.

A prioridade, portanto, é sanar essas defasagens, mas não sabemos se vamos conseguir, afinal a nossa rede tem 138 unidades e 37.000 alunos. Temos também muitas escolas na zona rural, onde praticamente não há sinal de internet. Mas vamos tentar chegar em todas as escolas.

Hoje é imprescindível  a escola  ter uma internet de qualidade. O professor às vezes quer trabalhar com um vídeo, e o computador trava na hora de executá-lo. Ou seja, não adianta ter só a didática. O meio que o professor vai utilizar também tem que acompanhar essa didática.

 

Quais são as expectativas da rede com a implementação do plano de inovação?

Primeiramente a gente precisa mobilizar a rede. Não adianta a gente ter máquinas potentes, internet boa, se a rede não abraçar a ideia de utilizar as tecnologias da forma correta e pedagógica. Como já temos experiência no uso das tecnologias, acho que a gente não vai ter tanta dificuldade. Os docentes se adaptaram bastante na pandemia, mas ainda temos docentes em vários níveis de desenvolvimento. Isso é ruim, pois gera uma exclusão entre os que não conseguem acompanhar o avanço. Sendo assim, precisamos desenvolver melhor essa frente e investir na mobilização.

Como era o uso das tecnologias digitais antes da pandemia?

A gestão sempre investiu no uso de tecnologias. Há dez anos, temos em nossa rede o Núcleo de Tecnologia do Município – NTM que atua  juntamente com os Analistas em Educação Tecnológica que são cerca de 50 profissionais espalhados pelas escolas, e a função deles é justamente dar suporte tecnológico. Sendo assim, todas as escolas, em maior ou menor grau, já usavam tecnologias, e o apoio desses profissionais – que atendem professores, gestores, coordenadores e alunos – foi fundamental na pandemia, pois todos já tinham uma base. Nesse sentido, estamos preparados na questão do capital humano.

Durante a pandemia, nós ganhamos até um prêmio em nível estadual  por ter conseguido, mesmo com poucos recursos, criar soluções para viabilizar as aulas remotas. Nos destacamos entre todas as redes municipais do estado, e acredito que esse resultado se deve ao trabalho que vem sendo feito todos esses anos.

Pela sua experiência, este programa de inovação e tecnologia é viável, e até recomendável, para outras redes de ensino?

Sim, com certeza. Esse programa traz uma base conceitual muito importante. As redes têm a base prática, mas nem sempre a conceitual. Dessa forma, a rede de ensino que abraça esse programa não sai do mesmo jeito, pois adquire conhecimentos teóricos e práticos. Além disso, em muitas redes, o que temos disponível é uma planilha. Mas o Guia EduTec disponibiliza em um só local toda a sua estrutura da rede, o que nos permite visualizar em que nível estamos e aonde devemos chegar.

Os municípios necessitam de um suporte como este da assessoria técnica, que traz um conhecimento amplo, além de experiências de várias regiões.

Você gostaria de compartilhar alguma conquista com as outras redes?

Sim, claro. Tivemos uma conquista na elaboração do diagnóstico, pois atingimos o nível recomendado de 85% das escolas com o preenchimento do questionário. Toda a rede abraçou a ideia e em pouco tempo conseguimos fazer uma grande mobilização. Fomos a primeira rede do programa a atingir a meta. É um ponto positivo, pois mostra o nosso engajamento.

E como vocês conseguiram esse resultado?

Utilizamos os materiais que vocês disponibilizaram e ligamos para as escolas para perguntar se as pessoas estavam com alguma dificuldade, se poderíamos ajudar de alguma forma. Isso faz a diferença, pois as pessoas se sentiram inseridas no processo e entenderam a importância do projeto para toda a rede.

 

 

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