CIEB lança, em parceria com especialistas, um panorama sobre a utilização da Inteligência Artificial no processo de gestão e de ensino-aprendizagem.
A parceria entre os pesquisadores Seiji Isotani, da Universidade de São Paulo (USP), e Ig Ibert Bittencourt Santana Pinto, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), começou em 2007. Eles estavam nos Estados Unidos, onde eram os únicos representantes brasileiros da International Conference on Artificial Intelligence in Education, até hoje o principal evento do mundo ligado à Inteligência Artificial (IA) na Educação. Mal sabiam que aquele encontro passaria a nortear o trabalho de ambos.
Nomes de referência quando o assunto é o impacto da IA no processo de ensino-aprendizagem, Seiji e Ig foram convidados pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) para produzir a “Nota Técnica #16” – Inteligência Artificial na Educação. O material, lançado neste mês de novembro, já está disponível para download.
As Notas Técnicas fazem parte da proposta do CIEB de reunir pesquisadores para estudar e debater temáticas relacionadas à inovação na educação. Os resultados são consolidados em publicações com acesso gratuito.
Muito além das máquinas
Em linhas gerais, o termo Inteligência Artificial se refere a sistemas de computador capazes de realizar tarefas que usualmente requerem conhecimento humano. Quando pensamos no assunto, costumeiramente o associamos aos robôs e aos cenários futuristas mostrados em filmes e livros. A IA, porém, está mais próxima do que imaginamos. “Normalmente, a Inteligência Artificial está relacionada ao machine learning (aprendizagem de máquina), mas ela vai muito além disso”, ressalta Ig Ibert. “Na Nota Técnica, fizemos um paralelo entre a Inteligência Artificial e a Inteligência Artificial na Educação. Primeiro, apresentamos os conceitos da área de IA, como eles surgem e o que significa um sistema ser inteligente. Depois, tentamos explicar como isso se relaciona com a educação e como os gestores e os empreendedores podem se beneficiar desse tipo de tecnologia.”
A Inteligência Artificial na Educação amplia também as capacidades do professor, permitindo que ele foque em sua tarefa mais importante: acompanhar os estudantes de forma individualizada e apoiar de forma mais efetiva o processo de ensino-aprendizagem. “Esse tipo de aplicação vem sendo desenvolvida em uma subárea da IA chamada Inteligência Aumentada, cujo objetivo é utilizar a IA para aumentar as capacidades humanas, permitindo às pessoas realizar suas tarefas com mais precisão e rapidez”, escrevem os especialistas.
Com exemplos de experiências que podem ser levadas ao cotidiano escolar, a Nota Técnica #16 mostra como a IA contribui na tomada de decisões pedagógicas, atuando no ambiente para concretizar os objetivos educacionais. Ig e Seiji listam práticas exitosas, como sistemas que apoiam a correção de textos e o ensino de matemática, entre outros. “A área administrativa também pode ser beneficiada. Atividades simples, mas que demandam tempo e organização, como realizar chamadas ou organizar a carga horária dos professores, podem ficar a cargo da Inteligência Artificial. Todos podem acessá-la.”
“O maior impulsionador de engajamento é o professor”
Outro ponto importante do estudo, ressaltado pela dupla, é a função primordial dos professores nos processos ligados à tecnologia na educação. Ou seja: precisamos deixar de lado a ideia propagada no cinema e na literatura de ficção segundo a qual os robôs poderiam tomar o lugar do homem. “O que mais temos aprendido durante a pesquisa com Inteligência Artificial é que não se trata de automatizar processos por si só. O mais importante para a educação está na combinação da inteligência humana e da inteligência de máquina. Os resultados são sempre mais efetivos”, assegura Ig.
“O aluno, quando engajado, aprende muito bem com a tecnologia. O problema é superar a etapa do engajamento. Os melhores modelos ocorrem quando você combina o professor com o sistema. Afinal, o maior impulsionador de engajamento é o professor”, ressalta o especialista.
Conexão Brasil-China
Ig Ibert e Seiji continuam cruzando fronteiras, com o intuito de estudar os impactos da Inteligência Artificial na Educação. Atualmente, são professores visitantes da Beijing Normal University, na China, país onde os investimentos em tecnologia são cada vez maiores. “Por lá, vários departamentos de computação estão mudando o nome para ‘Departamentos de Inteligência Artificial’. É uma forma de receber atenção do próprio governo, captar e desenvolver mais inovação para a China e para o mundo”, comenta.
“Para um melhor uso e entendimento dos benefícios da Inteligência Artificial na Educação, precisamos, portanto, investir na formação (e nas competências digitais) dos gestores, da rede de ensino e dos professores”, finaliza Ig.
Publicado em: Notícias Gerais