Eu transformo a educação com tecnologia

Herbert Lima

Secretário de Educação de Sobral (CE), município que se tornou referência em gestão educacional, Herbert Lima conta nesta entrevista como tem sido esses quase dois anos de ensino remoto e híbrido e os aprendizados em relação ao uso das tecnologias na educação

 

Depois de longos meses de aulas remotas e híbridas, como a Secretaria de Educação de Sobral está retomando as atividades presenciais? 

A Secretaria de Educação de Sobral elaborou um plano de retomada gradual das atividades presenciais e esse plano prevê algumas estratégias para a recuperação da aprendizagem. Nesse contexto, percebemos a necessidade de ampliar o horário de atendimento dos estudantes, passando para o atendimento em tempo integral. No contraturno, queremos que as crianças revisem conteúdos, habilidades e competências que não foram efetivamente concretizadas ou implementadas no ensino emergencial remoto. Além das atividades presenciais na escola e do tempo integral, nós mantemos a realização de atividades mediadas por tecnologias. Nesse sentido, a formação online de professores continua. Mantemos uma série de cursos de capacitação, extensão e aperfeiçoamento e, inclusive, vamos lançar uma pós-graduação com a Universidade  Federal do Ceará (UFC). Continuamos também o apoio de forma online para os estudantes. A gente compreende que essas experiências, essas tecnologias vieram para ficar.

 

Essa pós-graduação com a UFC é voltada para o desenvolvimento de competências digitais? 

Essa pós-graduação vai tratar de temas relacionados ao uso de tecnologias digitais na educação, mas também vai expandir para outras temáticas, como a cultura maker, o pensamento computacional, a educação a distância, o ensino remoto, o ensino híbrido, a inovação pedagógica em sala de aula. É uma formação que tem como principal objetivo capacitar e qualificar diretores, coordenadores pedagógicos, gestores e professores em sala de aula para a utilização das tecnologias ainda nesse momento da transição para o presencial e também para consolidar uma política pública de educação que permita a mediação de conteúdos e da aprendizagem por meio das tecnologias.

 

O que mais a pandemia evidenciou, além da necessidade de desenvolver competências digitais em professoras e professores? 

No mundo inteiro, nenhum sistema estava preparado para um desafio tão grande, que foi, em curtíssimo tempo, oferecer o que chamamos de ensino emergencial remoto temporário. Um aspecto importante que ficou claro é a necessidade de investir em infraestrutura, ou seja,  equipamentos, computadores, conectividade. Também ficou evidente que não basta ter as tecnologias e instrumentalizar os professores para o uso dos recursos tecnológicos. É preciso ajudá-los a desenvolver estratégias de aprendizagem mais efetivas para alfabetizar, desenvolver o raciocínio lógico-matemático, monitorar as avaliações, adaptar seus planos de aulas para um ensino remoto emergencial temporário de modo efetivo, concreto. Por último, também se destacou a importância de qualificar ainda mais a formação continuada de professores. Esses são os grandes desafios. Estamos aprendendo muito, criando e inovando muito, mas certamente teremos um legado muito importante, mesmo para quando voltarmos 100% presencial.

 

E em relação aos desafios de preparar as crianças e jovens – e até as famílias –  para o ensino remoto, o que ficou dessa experiência?

Sem dúvida, tem aspectos importantes desse processo, pois ficou muito marcada a importância do acompanhamento dos pais e responsáveis, bem como do ambiente de estudo e do acesso das crianças aos materiais e dispositivos. A família assumiu um papel protagonista que precisa ser reconhecido e fortalecido pela escola – e a gente espera que elas continuem fazendo esse acompanhamento diário depois da retomada para o presencial. Por outro lado, a relevância do profissional da área da educação também ficou muito destacada. Os familiares não conhecem, necessariamente, as teorias, as técnicas e as estratégias de aprendizagem, de alfabetização. Nesse sentido, a presença da criança na escola se mostrou fundamental. A escola é o espaço adequado para a aprendizagem, pois dispõe de recursos, ferramentas e materiais adequados, além de profissionais, que precisam ser qualificados e estar em constante capacitação.

 

Como será o futuro da educação depois dessa experiência com o ensino remoto?

Acredito que a gente tem que ver todas as situações vivenciadas na pandemia com cautela e prudência.  Acredito que, sim, ficará um legado de experiências positivas e que haverá uma maior disseminação e organização das instituições de educação básica e de ensino superior quanto ao uso de plataformas, sistemas de gerenciamento de informação e comunicação, sistemas virtuais de aprendizado. Teremos uma disseminação cada vez maior dessas ferramentas, mas dentro de um limite. Por isso eu não diria que estamos diante de uma ruptura ou do início de uma nova era. Os professores continuarão fazendo uso dessas ferramentas para reuniões, projetos, atividades de natureza pedagógica. Teve muito aprendizado, muita mudança de perspectiva, de paradigma, mas, gradualmente, o ensino presencial vai se consolidar novamente e ter o reconhecimento de todas as suas qualidades. E isso é natural. Resumindo, ficam aprendizados, ensinamentos para a educação básica, para o ensino público e privado, para gestores e professores, para técnicos. Mas, acima de tudo, fica o entendimento de que precisamos capacitar nossos professores, investir em tecnologia, recursos e aparatos, além de disseminar competências e a cultura digital.

 

Publicado em: transformadores