Há três anos, a secretaria estadual de Educação da Paraíba se propôs a criar um novo currículo para os anos iniciais do ensino fundamental. Essa nova perspectiva visava transformar a educação paraibana e deu origem aos Centros de Referência em Inovação da Aprendizagem, ou CRIAs, coordenados por Erickle Lucena. Esses centros visam desenvolver cidadãos e cidadãs desde cedo, visando o futuro, e possuem como referência o currículo de referência em tecnologia e computação do CIEB. Nesta entrevista, Lucena nos contou como ocorreu a implementação do currículo na rede paraibana e seus desdobramentos. Confira!
Como o uso de tecnologias digitais é feito na rede e como o currículo de referência em tecnologia e computação do CIEB se encaixa nesse contexto?
A gente tem algumas disciplinas novas que visam completar, para além da BNCC, toda a visão que a gente tem da educação. Uma delas se chama design de tecnologia e sua função é ensinar nossas crianças a gerenciar um projeto para intervir no mundo real de forma a contribuir para a melhoria da sociedade.
É dentro desse contexto que tecnologia digital entrou no modelo dos Centros de Referência em Inovação da Aprendizagem (CRIA), como um dos impulsionadores do poder de transformação dessas crianças. Tentamos aliar esse conhecimento digital com esse propósito; não é tecnologia por tecnologia, é tecnologia com um propósito.
Pesquisamos vários currículos de tecnologia para entender quais práticas tinham sido exitosas e quais estavam alinhadas com a nossa proposta . Em nenhum lugar a gente encontrou um currículo tão bem estruturado e alinhado com a nossa perspectiva quanto no CIEB, que tem um currículo que estrutura e fornece acúmulo de aprendizagem para o aluno alinhado com a formação cidadã.
A gente acabou colocando o currículo do CIEB como eixo norteador para construir o nosso currículo, uma espécie de “currículo filho”, por conta do alinhamento em construir as competências e habilidades digitais, a formação de um cidadão ético, responsável e capaz de entender e melhorar a sociedade.
Como está sendo a experiência com a implantação do currículo de tecnologia e computação?
Fazemos uma avaliação muito positiva, não apenas do conhecimento que esses estudantes adquiriram para o uso de tecnologias digitais, mas também de algumas habilidades que se desenvolveram e saíram do campo da tecnologia digital para o campo da cidadania infantil.
Tínhamos escolas que trabalhavam a questão da ética no uso de internet e de aparelhos e soubemos de casos de crianças que foram influenciadas de diferentes maneiras por esse conteúdo. Ao trabalhar o pensamento lógico, isso também acaba gerando melhores resultados em outras disciplinas, no pensamento da criança no seu dia a dia.
Quais os desafios encontrados pela rede na implementação do currículo? A pandemia afetou de alguma forma?
Os desafios que a gente teve estão relacionados ao ensino público de maneira geral. Não temos, na nossa cultura acadêmica, a preparação de professores nas licenciaturas para trabalhar um currículo de tecnologia; tivemos de criar uma formação à parte. Além disso, tivemos dificuldades, em muitos casos, de trabalhar com os equipamentos já existentes, que não são tão modernos.
Para além da escola, temos outros desafios, como a existência de alunos em situações sociais desfavoráveis. A gente tinha alunos que não tinham acesso à internet em suas casas, tampouco aparelhos digitais. As restrições de idade para uso de alguns softwares e ferramentas também merece ser destacada, pois isso acaba eliminando uma série de possibilidades de ferramentas digitais.
Vale dizer que, embora a pandemia ‘force’ o ensino remoto e o uso de aparelhos digitais, isso não significa que consigo usar esse tempo em que a criança está em frente a um aparelho digital para ensiná-la sobre tecnologias digitais.
Sobre o impacto da pandemia, o fato de já existir competências digitais facilitou muito. Não tivemos dificuldades relacionadas ao uso de aplicativos e softwares que eram necessários para a realização das aulas remotas.
Qual dica o senhor daria para quem deseja implementar o currículo?
Antes de implantar um currículo de tecnologias digitais, construa uma política pública que o envolva. Em uma política pública para o século 21, as tecnologias são, naturalmente, essenciais.
Com isso construído, busque referências de currículos pensados não só para o uso da tecnologia, mas para a construção de um futuro melhor para aquele lugar. O primeiro local do Brasil para se procurar isso é, justamente, o CIEB, pois seu currículo de referência pensa a evolução de habilidades e competências que envolvem tecnologia com o grau de evolução da preparação do cidadão para intervir positivamente na sociedade.
Publicado em: transformadores