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Por que investir em tecnologia para educação

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Artigo publicado originalmente no Estadão em 09/10/2020

Por Lucia Dellagnelo 

O acesso à equipamentos digitais e à conexão com a internet está sendo determinante para a aprendizagem de milhões de estudantes no Brasil e no mundo. Mas não era necessária uma pandemia para saber que a tecnologia é essencial para ofertar experiências educativas dentro e fora da escola nem para conhecer seu potencial para promover qualidade e equidade na educação.

Nas últimas semanas foram publicados documentos internacionais que conclamam o Brasil a realizar investimentos urgentes em tecnologia para educação. Seus argumentos são claros e poderosos: investir em computadores e conectividade é importante para melhorar a aprendizagem, ampliar as oportunidades educativas e estimular a competitividade do país.

O relatório PISA 2018 Results – Effective Policies, Successful Schools, que analisa fatores escolares relacionados ao desempenho de estudantes de 15 anos no PISA (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), mostra que o Brasil está em penúltimo lugar entre os 77 países participantes do programa em relação à quantidade de computadores por aluno disponibilizados nas escolas

O investimento entre 2015 e 2018 em computadores para educação cresceu menos de 10%, enquanto na Estônia, país com melhor desempenho na Europa e na 5ª posição geral do ranking, este investimento foi de 55%. A análise dos dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), exame no qual o desempenho do Brasil esteve entre os piores em todas as suas edições, mostra que, no caso do Brasil, há uma correlação positiva entre o uso de tecnologia na escola e o desempenho dos estudantes.

Outro argumento em favor da conectividade para educação é defendido pelo relatório A Transformação Digital da Educação,  da Broadband Commission da ONU, que mostra que computadores conectados à internet são recursos pedagógicos essenciais para ampliar as oportunidades educacionais de crianças e jovens dentro e fora da escola. O relatório sugere a estratégia de mapear, conectar, financiar e empoderar estudantes como o caminho a ser percorrido para que países invistam na conectividade a fim de aumentar os níveis de aprendizagem dos estudantes. No Brasil, ainda que os dados do Censo Escolar mostrem mais de 95% de escolas conectadas à internet, essa conexão é geralmente restrita ao uso administrativo e não disponibilizada nas salas de aula e, portanto, não tem impacto direto na aprendizagem.

Por fim, talvez o argumento mais facilmente compreendido por todos é que ao não investir na transformação digital da educação o Brasil pode perder o bonde da história. Frente à 4ª Revolução Industrial, a competitividade do país estará mais do que nunca relacionada ao nível educacional e às competências digitais de sua população. O Ranking de Competitividade do World Economic Forum, em 2019, mostrou o Brasil na 71ª posição entre 141 países. Quando são analisados indicadores ligados à educação e a competências digitais, o Brasil cai e fica entre as 10 piores colocações do ranking (133º).

O mesmo dado é mostrado pelo Ranking de Competitividade Digital, publicado pelo instituto suíço IMD. O estudo realizado no Brasil em parceria com a Fundação Cabral e Movimento Brasil Digital analisa cada país em três pilares: conhecimento (know-how necessário para descobrir, compreender e construir novas tecnologias), tecnologia (as condições gerais que possibilitam o desenvolvimento de tecnologias digitais) e prontidão para o futuro (o nível de preparo para explorar as transformações digitais). 

Entre os 63 países participantes, aparecemos na 51ª posição. Quando analisados apenas indicadores relacionados à talentos e educação, o Brasil cai para a penúltima posição do ranking (62º).

Não faltam evidências que investir em tecnologia para educação é necessário e urgente! Precisamos fazer uso da tecnologia para elevar os níveis de aprendizagem dos estudantes e para desenvolver as competências digitais do povo brasileiro. 

 

Lucia Dellagnelo é doutora em Educação pela Universidade Harvard e diretora-presidente do Centro de Inovação de Educação Brasileira (CIEB). 

 

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