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Os novos empreendedores da educação

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Por Bruno Vieira Feijó
Da revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios

Provavelmente você já ouviu histórias dos seus pais ou avós sobre como era a escola no início do século 20. Professores severos, senhores do conhecimento, armados com palmatória, réguas de madeira e punhados de milho, usados para castigar alunos indisciplinados ou que não conseguiam aprender. O mestre falava; os alunos anotavam. Quem tinha memória afiada para recitar a tabuada, e não raciocínio crítico, ganhava nota alta e elogios. As engrenagens desse modelo atravessaram décadas e, aqui e ali, ainda se veem resquícios do seu funcionamento. Felizmente, uma jovem de 26 anos — a internet — tem sido a principal aliada de empreendedores dispostos a banir esse padrão caduco e instaurar uma nova ordem no ensino, muito mais afinada com as necessidades do século 21.

 

No lugar da palmatória, entram em cena plataformas, softwares, currículos e metodologias de ensino que nascem com a ambição de encantar os estudantes e, sobretudo, de construir um modelo mais personalizado, divertido e adequado às habilidades requeridas para o mundo complexo, digital e globalizado em que estamos inseridos agora. As startups da educação já nascem com nome de batismo: edTechs. E abrir uma delas pode ser uma oportunidade e tanto. Estima-se que o mercado global de tecnologia aliada à educação cresça 17% ao ano, alcançando US$ 252 bilhões em receitas até 2020, de acordo com o relatório edTechXGlobal, realizado pelo banco inglês IBIS Capital. Hoje, esse setor movimenta em torno de US$ 160 bilhões.

 

Trata-se ainda de uma pequena fração de tudo o que é investido em educação. Os números são ainda mais robustos: algo em torno de US$ 5 trilhões anuais no mundo e R$ 140 bilhões no Brasil. Segundo o relatório do IBIS, apenas 2% do setor está integrado ao mundo digital. A velocidade da automatização é cinco vezes mais lenta do que a observada em outros segmentos, como mídia e logística, por exemplo. A lentidão se deve, em parte, à dificuldade de vencer resistências de alunos, professores, instituições de ensino, governos e outros atores, não necessariamente nessa ordem, envolvidos no debate da formação dos cidadãos. O avanço digital, porém, é inevitável — e necessário. Até 2035, calcula-se que haja 2,7 bilhões de pessoas em idade escolar. Só para atender à demanda pelo ensino superior na estrutura atual, seria necessário construir duas universidades por dia durante os próximos 18 anos, de acordo com estimativas do Ibis Capital. “O mundo físico não dá mais conta de acolher tanta gente”, diz Lúcia Dellagnelo, diretora do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb), uma associação sem fins lucrativos apoiada por diversas fundações e institutos para estimular o uso da tecnologia inclusiva.

 

Os novos empreendedores da educação também têm como missão diminuir a desigualdade brutal entre o ensino praticado em escolas públicas e privadas. Em uma palestra recente, Peter Diamandis, cofundador da Singularity University — instituição no Vale do Silício que reúne algumas das mentes mais brilhantes do planeta —, declarou que “a tecnologia vai tornar a aprendizagem mais democrática, permitindo que qualquer homem, mulher e criança seja capaz de colher os benefícios do conhecimento”. Entre as iniciativas de sucesso, Diamandis destaca a Khan Academy, uma plataforma online, multilíngue e gratuita que ensina matemática de um jeito leve para mais de 20 milhões de crianças no mundo. Criada em 2006 pelo americano Salman Khan, de 40 anos, a escola faz parte de um fenômeno maior de popularização dos MOOCs (sigla em inglês para cursos online em massa e abertos). Segundo a consultoria GSV Advisors, até 2020, 380 milhões de estudantes estarão conectados a salas de aula virtuais, movimentando US$ 24 bilhões.
Além de ajudar a disseminar o conhecimento em grande escala, a automação da educação abre uma infinidade de oportunidades para startups dispostas a atacar as necessidades de alunos, professores, escolas e pais. “No caso dos estudantes, há espaço para soluções online que aumentem o tempo médio de estudo, como reforço escolar, simulados e tutoriais a preços populares”, diz Denis Mizne, presidente da Fundação Lemann, que apoia diversas iniciativas em busca de uma educação pública de qualidade. “O estudante brasileiro passa apenas 4,5 horas por dia em sala de aula, e nesse período ele não absorve conteúdo de qualidade para entrar em boas universidades ou se candidatar a empregos qualificados. Há um mercado gigante à espera de inovadores dispostos a explorar essa brecha.” Segundo a edição 2015 do Pisa, avaliação elaborada a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 77% dos estudantes da rede pública, por exemplo, não conseguem atingir o nível 2 em matemática, que denota a capacidade de empregar algoritmos e fórmulas básicas.

Os professores, por sua vez, demandam ferramentas que os ajudem a identificar com precisão e rapidez quais habilidades um estudante domina e quais ainda precisa praticar. Hoje já existem diversas empresas capazes de monitorar tudo o que os estudantes fazem e, com base em testes e exercícios interativos, gerar relatórios e planos de estudos individuais. “Essas iniciativas estão em sintonia com os estudos mais recentes em cognição, que apontam que o ritmo e o modo de aprendizado de cada aluno são diferentes”, diz Mizne. Para ele, uma área em particular que ainda carece de boas soluções tecnológicas é a de gestão escolar. “Não temos no mercado muitas ferramentas que incorporem a realidade de um diretor de escola, que precisa lidar com uma complexa logística de grades horárias, distribuição de disciplinas e alocação de professores.”
O mercado também está aberto a metodologias e materiais didáticos que ajudem a flexibilizar o currículo. “Num momento em que o acesso às informações já não é um problema a ser resolvido na escola, como antes da internet, não se trata mais de despejar doses generosas de conhecimento sobre os alunos, mas sim de forjar cidadãos criativos, críticos e resilientes”, afirma Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare, que tem como missão incentivar iniciativas empreendedoras capazes de melhorar a qualidade da educação no Brasil. Há espaço para escolas ou faculdades dispostas a criar grades flexíveis, que permitam ao aluno escolher disciplinas de interesse. Fora do ensino formal, há muitas oportunidades para quem utilizar os avanços tecnológicos para melhorar a performance do profissional no mercado de trabalho.
Nas próximas páginas, PEGN traz 24 empreendedores, selecionados a dedo em todo o Brasil, que souberam incorporar, em seus negócios, as tendências da educação do futuro, em seis categorias: Ensino Infantil e Fundamental, Médio, Superior, Capacitação Corporativa e Cursos Livres. Mais do que empreendedores, a grande sacada dos negócios deles é que, antes de mais nada, eles se consideram eternos aprendizes.
O Brasil tem como meta alfabetizar até 2022 todas as crianças de até 8 anos de idade — hoje a taxa está em 90%. “A criança que é incentivada de forma adequada tem mais chances de concluir o ensino médio, obter um bom desempenho acadêmico, seguir a carreira desejada e ganhar mais”, diz Ricardo Falzetta, gerente do movimento Todos Pela Educação. O mercado está aberto para plataformas e metodologias inovadoras, que ajudem os alunos a desenvolver a comunicação, absorver habilidades sociais e executar tarefas em grupo. Também há espaço para startups focadas em capacitação de professores (apenas 47% deles têm ensino superior) ou para quem esteja disposto a abrir creches e pré-escolas — o número de matrículas nesse nicho teve um crescimento significativo nos últimos cinco anos. Vender metodologias e sistemas para o governo pode ser uma boa aposta: hoje, 80% de todas as matrículas acontecem nas redes municipais e estaduais. Mas é preciso preparo para enfrentar a burocracia de editais e licitações.
Ferramenta que forma leitores

Para incentivar o gosto pela leitura e estimular o aprendizado por meio de fatos reais, a startup Guten, de São Paulo (SP), desenvolveu um jornal digital acessado via tablet que traz notícias adaptadas para crianças de 8 a 12 anos. “Para cada notícia, há games com exercícios e missões que testam a interpretação de textos”, diz Danielle Brants, 31 anos, que fundou o negócio em 2014. Uma vez por semana, a plataforma recebe novos conteúdos produzidos por jornalistas e especialistas em linguística aplicada. Os alunos acumulam medalhas à medida que completam as atividades. “Conseguimos mapear tudo o que eles fazem, as dificuldades de cada um e os conteúdos que mais interessam. Com esses dados, geramos relatórios e planos de aulas para a escola”, afirma. Antes de empreender, Danielle trabalhou durante dez anos em bancos, como Goldman Sachs. “Pedi demissão porque queria gerar impacto para a sociedade”, diz. Após conversar com professores, percebeu que havia poucos recursos tecnológicos destinados à leitura. “As notícias permitem distinguir fatos de opiniões e desenvolver senso crítico”, afirma. Atualmente, a ferramenta é usada por mais de 35 mil estudantes de 30 colégios particulares. A empresa não divulga faturamento — a estimativa é que alcance R$ 1,5 milhão em 2017. O negócio já recebeu um aporte do fundo americano Omidyar Network. Para 2018, a meta é chegar à rede pública de ensino. “O meu sonho é formar uma nação de leitores”, diz Danielle.

AS LIÇÕES DE DANIELLE BRANTS

Cerque-se de especialistas

“Todo mundo acha que entende de educação só porque já foi aluno um dia, mas não é bem assim. Se você não é da área, contrate pedagogos e especialistas com conhecimentos profundos para desenvolver um produto relevante, que gere impacto e demanda no setor”

Use bem as ferramentas

“Quando propõe o uso de recursos digitais, saiba exatamente o que você quer que os alunos aprendam. A tecnologia é a ferramenta, não o objetivo. A expectativa é que ela ajude os alunos para que contem histórias, dominem linguagens, conduzam mudanças, resolvam problemas, sejam críticos e se comuniquem de maneira mais clara”

 

Quase 12% dos jovens não conclui o ensino médio. Não se trata de um problema exclusivamente brasileiro — na Espanha, 30% não chegam ao fim dessa etapa. A principal causa é o desinteresse. “Nessa fase, existe uma desconexão entre o ensino e a realidade do aluno, que não enxerga, na escola, algo que contribua para seu projeto de vida”, diz Anna Penido, do Instituto Inspirare. Uma pesquisa feita pelo Inspirare em 2015 revela que os adolescentes não querem só uma infraestrutura melhor — eles desejam um ensino conectado com o século 21, que inclua atividades práticas, interação com a comunidade e participação nas decisões da escola. As áreas mais promissoras para startups são o desenvolvimento de aplicativos que incentivem o ensino, promovam o engajamento da família e garantam avanços no processo de aprendizagem. As escolas também buscam soluções que as ajudem a se adaptar à reforma do ensino médio, promulgada há poucos meses e que prevê 40% da carga horária para um currículo flexível e de interesse do aluno.

 

O streaming da educação

Fazer os professores mais talentosos chegarem a alunos de baixa renda, revertendo a lógica do sistema escolar brasileiro: foi com essa intenção que Marco Fisbhen, 37 anos, fundou, em 2013, o Descomplica, site de videoaulas para estudantes do ensino médio. A empresa, sediada no Rio de Janeiro (RJ), descobre quem são os professores mais carismáticos de cursinhos e escolas privadas, contrata os profissionais para gravar aulas em estúdio e as disponibiliza no site. Até agora, a plataforma acumula mais de 30 mil aulas gravadas com todo o conteúdo do ensino médio — a ênfase é nos tópicos cobrados no Enem e nos vestibulares. “Em vez de apenas um bom professor para uma sala com 40 alunos, conseguimos oferecer dezenas de excelentes professores para qualquer número de alunos”, diz Fisbhen, que fundou o serviço quando ainda era professor de cursinho pré-vestibular. A plataforma funciona em formato de assinatura, com preços de R$ 15 e R$ 20 mensais. Algumas videoaulas são épicas — no ano passado, Fisbhen se jogou de um avião para ensinar os conceitos de resistência do ar. Além das lições virtuais, o site permite que os estudantes realizem exercícios e vejam seus resultados em tempo real. Outros serviços incluem resolução de provas de vestibulares, podcasts e simulados. No ano passado, o Descomplica atraiu 32 milhões de visitantes. A empresa, que já recebeu R$ 40 milhões em aportes, não revela o faturamento. A estimativa do mercado é alcançar uma receita de R$ 90 milhões em 2017, o dobro do ano passado.

AS LIÇÕES DE MARCO FISBHEN

Trace um planejamento

“Embora escrever um plano de negócios esteja fora de moda hoje em dia, o processo de estudar e registrar no papel o tamanho do setor, os pontos fortes e fracos da concorrência e as oportunidades de mercado é enriquecedor e pode fazer toda a diferença”

Seja persistente

“Não mude seu modelo de negócios de três em três meses. Quando se fala em startups, há uma associação direta com velocidade e agilidade. Mas, nessa área, é preciso ter um pouco de persistência e visão de longo prazo para provar suas ideias, sobretudo no início do negócio”
Em 2015, foram feitas 2,4 milhões de matrículas no ensino superior, 7% a menos que em 2014, de acordo com o censo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). A queda interrompeu um movimento de crescimento que já durava uma década — entre 2004 e 2014, o número de universitários brasileiros dobrou no país. Quase um terço desses alunos usou linhas de crédito do Fies, o programa de empréstimos com juros subsidiados do governo federal. A crise econômica, porém, paralisou o Fies, fazendo o mercado regredir nos últimos dois anos. “Para trazer de volta os alunos, as faculdades estão buscando tecnologias acessíveis que ajudem a flexibilizar o currículo, ofertar disciplinas à distância e melhorar seus processos internos”, diz Denis Mizne, da Fundação Lemann. No ensino superior, diferentemente do que acontece com a educação básica, 80% dos cursos são ministrados por instituições privadas. “Isso facilita a atuação das startups, que não precisam lidar com a burocracia dos editais”, afirma Mizne.

 

Monte seu próprio currículo

Inspirado no modelo americano de graduação, o administrador Bruno Berchielli, 26 anos, criou um software que permite às faculdades oferecer um sistema de grade curricular flexível. A ideia surgiu quando Berchielli trabalhava como gerente de marketing na empresa da família — a Fappes, uma instituição de ensino paulistana com 3.000 alunos em cursos de administração e negócios. “Procurávamos formas criativas de agrupar os estudantes em áreas de interesse e eliminar as turmas divididas por semestre”, diz. “Estudei a fundo as regulamentações do Ministério da Educação e não encontrei barreiras para criar grades personalizadas.” Depois de desenvolver o software, o empreendedor decidiu criar uma empresa independente, a Blox, e oferecer a solução para outras instituições. “Trabalhamos com um sistema de créditos, que permite ao estudante escolher quais disciplinas quer cursar”, diz. “Assim ele pode se aprofundar nas competências que acredita serem mais relevantes para sua carreira.” As disciplinas são organizadas em quatro perfis — trends (assuntos em alta), TMSD (temas fundamentais para a área de atuação), hard (matérias densas e técnicas) e trilhas (disciplinas sequenciais). A plataforma pode ser integrada aos softwares de gestão da faculdade. “Nesse modelo, sempre há disciplinas em andamento. A instituição não precisa se preocupar com o número mínimo de alunos para confirmar novas turmas”, diz Berchielli. Por enquanto, foram fechados contratos com redes particulares de Minas Gerais e Goiás, o que deve gerar R$ 4 milhões em receita em 2018 — o dobro do esperado para este ano.

AS LIÇÕES DE BRUNO BERCHIELLIO

Engaje os professores

“Um dos maiores erros de quem empreende com edTech é achar que o engajamento de escolas e professores será alto desde o início. É preciso ensinar como funciona o sistema diversas vezes para fazer com que entendam a real proposta de valor para eles”

Tenha foco

“Não existe uma bala de prata que resolva todos os gargalos da educação. Trabalhe para resolver um problema de cada vez”

 

O mercado de escolas particulares nunca foi tão competitivo no Brasil. Hoje, os pais buscam estabelecimentos que estejam em dia com as últimas transformações digitais e ofereçam métodos de ensino dinâmicos, capazes de formar cidadãos conscientes e com senso crítico. Segundo Rafael Parente, diretor do Ceipe (Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais), o empreendedor que pretende abrir uma escola ou aprimorar o seu empreendimento atual deve seguir as seguintes diretrizes: 1) o currículo do ensino fundamental e médio precisa ser flexível, para receber novas disciplinas, como cidadania e empreendedorismo; 2)  a tecnologia tem de estar presente em todos os ambientes, com o uso de tablets e smartphones na sala de aula e a criação de espaços maker, onde os alunos possam desenvolver seus próprios projetos; 3) o inglês deve ser obrigatoriamente ensinado desde o início da trajetória escolar; 4) devem ser implantados softwares para medir as habilidades dos estudantes, de uma maneira que as provas e notas tradicionais não conseguem.

 

Ensino do século 21

Para criar a estrutura pedagógica do colégio Concept, que abriu suas duas primeiras unidades neste ano em Salvador (BA) e Ribeirão Preto (SP), a fundadora, Thamila Zaher, 29 anos, inspirou-se nas visitas que fez a escolas-modelo de Los Angeles (EUA), Helsinque (Finlândia) e Frankfurt (Alemanha). Na escola idealizada por Thamila, a grade curricular inclui matérias como robótica, empreendedorismo e introdução a finanças, e os estudantes passam de oito a dez horas em sala de aula. “Meio período não é suficiente para garantir uma boa formação. Os brasileiros ficam poucas horas na escola, e isso se reflete em notas ruins na comparação mundial”, diz a empreendedora. Para incentivar o protagonismo dos alunos, cada unidade tem pelo menos um espaço maker, com ferramentas, impressora 3D e outros apetrechos que ajudam a desenvolver projetos pessoais. Thamila também desenhou uma estrutura de ensino bilíngue — 80% da carga horária da educação infantil é dedicada ao inglês. “Ser bilíngue não é só falar outra língua: é entender e respeitar outra cultura”, afirma. Thamila faz parte da segunda geração da família Zaher, que possui investimentos em redes de escolas tradicionais, como a Dom Bosco e a rede COC. Coube a ela criar um novo modelo de negócio, que deve injetar inovação nos outros colégios do grupo. “A Concept vai ser o primeiro passo para nos adaptarmos completamente ao currículo do século 21”, diz. As duas unidades já contam com 360 alunos matriculados, com mensalidades que começam em R$ 3.800.

AS LIÇÕES DE THAMILA ZAHER

Avalie os indicadores

“Um bom gestor é aquele que conhece os números da sua escola. Dá para começar uma análise básica usando os próprios indicadores de ensino fornecidos pelo governo, como o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]”

Crie mestres digitais

“Reserve uma parte do orçamento da escola para a capacitação dos docentes. É importante lembrar que os professores não nasceram digitalizados, enquanto seus alunos, sim”

 

Ademanda por serviços que aliam tecnologia e educação não está restrita ao ensino formal. Na área de educação corporativa, que movimenta em torno de R$ 8 bilhões por ano no Brasil, há uma forte procura por cursos que ajudem a reduzir o gap entre o que a empresa espera de um funcionário e a bagagem educacional que ele carrega. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) mostra que as companhias reservaram, em média, 0,5% do faturamento bruto para treinamentos em 2016 — 24% a mais que no ano anterior. Metade desse orçamento foi para a contratação de fornecedores de conteúdo e ferramentas de ensino. Dois movimentos impulsionam o mercado: 1. as empresas recebem trabalhadores vindos de um sistema educacional defasado, o que tende a derrubar a produtividade; 2. os gerentes percebem que funcionários de alto nível não têm as competências necessárias para atuar no ambiente digital. “Há espaço para produtores de conteúdo e plataformas de estudo que integrem formatos online com atividades práticas”, diz Alexandre Slivnik, diretor da ABTD.

 

Imersão no chão de fábrica

A startup Eruga, de Curitiba (PR), usa tecnologias de realidade virtual e aumentada para treinar funcionários de indústrias como a montadora de carros Renault e a fabricante de cosméticos Natura. O funcionário acessa o sistema por meio de óculos especiais ou smartphone. A partir daí, ele segue as orientações visuais para aprender atividades como manutenção de máquinas, inspeções de qualidade e procedimentos de segurança. Os treinamentos são divididos em dois tipos. Aqueles que utilizam óculos de realidade virtual (RV) permitem a imersão em um ambiente totalmente inventado. Já a tecnologia de realidade aumentada (RA) insere elementos 3D em cenários reais da fábrica, visíveis pela câmera do smartphone. “Conforme a pessoa se posiciona no ambiente de trabalho, as instruções e animações em 3D aparecem no seu campo de visão, indicando como simular determinadas operações”, diz Priscila Moscon, 29 anos, que fundou a Eruga em 2013 ao lado do irmão Wellington Moscon, 31. “O sistema registra o desempenho de cada funcionário e indica erros e acertos em tempo real.” Para que o método funcione, uma equipe de roteiristas, designers e programadores adapta o conteúdo a ser ensinado (normalmente disponível em manuais técnicos) para formatos interativos compatíveis com essas tecnologias. Atualmente, a Eruga tem dez projetos em andamento, o que deve render um faturamento de R$ 1,5 milhão em 2017. A expectativa é dobrar de tamanho a cada ano. “Alguns clientes já planejam levar a solução para suas filiais na Europa e América Latina”, diz Priscila.

AS LIÇÕES DE PRISCILA MOSCON

Aulas curtas, por favor

“O desafio de segurar a atenção dos funcionários em treinamento é semelhante ao enfrentado com alunos em uma sala de aula. Cada vez mais empresas estão buscando metodologias e ferramentas que adotem recursos de microlearning, ou seja, a divisão do conteúdo em sessões curtas, que podem durar uma semana, por exemplo, em vez de um dia inteiro”

Ouça os early adopters

“Ao ser contratado por uma empresa para realizar treinamentos técnicos, não se baseie apenas nos materiais fornecidos pelo departamento de RH. Peça ajuda aos funcionários mais reconhecidos naquela área e dê oportunidade para que eles compartilhem seu conhecimento com os colegas”

 

Cerca de 25% da receita gerada pelo mercado de educação — algo em torno de R$ 35 bilhões ao ano — não passa pelas mãos de instituições formais de ensino. Há um segmento enorme ocupado por cursos livres, que não são credenciados pelo MEC. Nos últimos anos, surgiram no país dezenas de instituições que se propõem a ensinar as habilidades necessárias para o século 21, como abertura ao risco, resiliência, criatividade e empreendedorismo. Entre as pioneiras desse mercado estão a Escola São Paulo, fundada em 2006 por Isabella Prata, e a paulistana Casa do Saber, aberta em 2004 por um grupo de artistas e empresários. Outra área em franco crescimento é ocupada pelas startups que ajudam o profissional a se capacitar em tecnologia — seja para conseguir um emprego, seja para melhorar a performance no trabalho. “A expansão dos cursos alternativos vai continuar”, diz Denis Mizne, da Fundação Lemann. “Para ganhar escala, é preciso investir em plataformas online que sejam fáceis de usar e permitam aos profissionais montar sua própria jornada de aprendizado.”

 

Escola underground

Já imaginou uma aula inspirada no jogo Banco Imobiliário? Ou um curso de economia em um cenário que lembra o filme Alice no País das Maravilhas? Esses são alguns exemplos do tipo de ensino praticado na Perestroika, uma escola de atividades criativas fundada em 2007 em Porto Alegre (RS) que oferece aulas  de empreendedorismo, design thinking, antropologia do consumo e futurismo, entre outros temas “fora da caixa”. Na última década, o negócio cresceu e se transformou numa rede com oito unidades espalhadas pelas principais capitais do país, que faturam, juntas, R$ 10 milhões ao ano. “Acreditamos que a aula deve ter o formato de encontro entre amigos. Por isso, o aluno pode tomar cerveja, sentar em pufes e trocar de papel com o professor enquanto aprende”, diz o fundador, Tiago Mattos, 34 anos. Para que os cursos gerem uma experiência memorável aos participantes, os sócios criaram uma metodologia que precisa ser seguida à risca pelos professores. “Toda aula deve ter um elemento-surpresa, que provoque reflexão e estimule os alunos”, diz Mattos. Para ganhar escala, a empresa vem se expandindo por meio de franquias. Nos últimos anos, foram também criadas sete novos braços de negócios, que geram 40% das receitas. Entre eles, estão a Sputnik, que leva os cursos da Perestroika para dentro das empresas, e a Aerolito, que presta consultoria B2B em desenvolvimento de softwares, hacking e internet das coisas. Neste momento, a escola está testando um aplicativo para smartphone que permitirá a conexão permanente entre ex-alunos e uma plataforma de cursos à distância. “A premissa é sempre a mesma: transformar o mundo em um lugar mais criativo, humano e provocativo”, diz Mattos.

AS LIÇÕES DE TIAGO MATTOS

Crie surpresas

“Os alunos não conseguem ficar mais de 20 ou 30 minutos consecutivos em estado de alerta. Leve isso em consideração ao desenvolver metodologias, softwares ou programação de aulas”

Combine estratégias

“Use o ambiente online para oferecer materiais educativos a preços competitivos e oferecer degustações. As aulas presenciais devem ser reservadas para quem se dispõe a pagar mais caro por encontros incríveis”

Publicado em: Notícias Gerais