Confira os principais destaques do evento realizado pelo CIEB, que contou com a participação de especialistas e diferente atores do ecossistema público e educacional
Em sua nova edição, realizada em 30 de agosto de 2023, o Conecte-C discutiu as experiências do SUS e do PIX como inspiração para o Sistema Nacional de Educação e de que forma a confiança conquistada por essas iniciativas de infraestrutura pública digital pode trazer aprendizados para a gestão educacional brasileira.
Participaram do diálogo Guilherme Cintra, diretor de inovação e tecnologia da Fundação Lemann, Mayara Yano, assessora sênior da gerência de gestão e operação do Pix no Banco Central do Brasil, Beatriz Vasconcellos, gerente do programa de inovação do setor público do Institute for Innovation and Public Purpose da UCL, João Abreu, diretor executivo da ImpulsoGov, Marcelo Perez Alfaro, especialista líder em educação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Julia Sant’Anna, diretora executiva do CIEB. O evento ainda contou com a participação de convidados do setor público, terceiro setor e de organizações ligadas à tecnologia e inovação na área educacional.
Marcelo Perez; Guilherme Cintra, Julia Sant’Anna; Mayara Yano, João Abreu e Beatriz Vasconcellos
Confira os principais destaques do evento.
“Infraestrutura pública digital é uma forma diferente de pensar o problema”
Para Guilherme Cintra, a ideia de infraestrutura digital muitas vezes parece algo distante e complexo, mas, na verdade, está mais ao nosso alcance do que imaginamos. Para escalar essa abordagem, é essencial compreender que o papel da tecnologia não é substituir os seres humanos, mas sim capacitá-los e permitir a ampliação de suas ações. Assim como o PIX revolucionou as transações financeiras e o Conecte SUS trouxe inovação para a área da saúde, a infraestrutura pública digital também pode transformar a educação. Para avançar nesse sentido, Cintra acredita ser crucial adotar essa perspectiva diferenciada para abordar os desafios educacionais.
Em sua apresentação, Beatriz Vasconcellos nos convidou a refletir sobre como a infraestrutura pública digital pode acelerar nossos resultados educacionais. Ela ressalta que, para isso, é preciso desenvolver, cada vez mais, a mentalidade do que funciona em escala no âmbito digital, de modo a respeitar a diversidade regional e permitir maior inovação. “A essência não é padronizar tudo, mas encontrar soluções essenciais que podem funcionar em escala”, apontou Beatriz.
PIX: um caso de sucesso de infraestrutura pública digital
O PIX, experiência promovida pelo Banco Central do Brasil (BCB), é uma tecnologia criada para viabilizar, de forma instantânea, pagamentos e transferências. Implementado a partir de 2020, em menos de três anos já viabilizou a realização de, aproximadamente, R$3 bilhões de transações financeiras e já promoveu economia de R$6 bilhões para consumidores e empresas que o utilizam.
Segundo Mayara Yano, o grande diferencial da iniciativa refere-se a sua forma de construção, que se orientou sob uma lógica participativa, permitindo a interação entre instituições financeiras e demais partes interessadas, como, por exemplo, na construção das regras de operacionalização e na definição de tecnologia capaz de viabilizar a liquidação instantânea de transações financeiras e de garantir a segurança de dados dos usuários. “Mais que conhecer, as pessoas precisam confiar”, destacou a assessora sênior do Banco Central do Brasil.
Conecte SUS e a inovação para reduzir as desigualdades
Outra iniciativa de infraestrutura pública digital brasileira reconhecida internacionalmente é o SUS. João Abreu, co-fundador e diretor-executivo da ImpulsoGov (organização sem fins lucrativos que atua para impulsionar o uso inteligente de dados e tecnologia no SUS), nos ajudou a entender melhor esta experiência.
Abreu apresentou um breve contexto sobre as desigualdades de acesso à saúde no Brasil, em um cenário onde 158 milhões de pessoas não podem pagar pela saúde privada e dependem exclusivamente do SUS.
Frente a esse cenário, a ImpulsoGov se propôs construir soluções que promovessem o uso inteligente de dados e tecnologia no SUS, que, apesar de toda as dificuldades, já possuia uma robusta capilaridade nacional e iniciativas relevantes de interoperabilidade de dados entre iniciativa privada e órgãos públicos.
João destacou que “hoje, 89% das unidades básicas de saúde do Brasil tem prontuário eletrônico, 105 milhões de pessoas estão cadastradas no sistema e esse número só está aumentando. Isso faz do Brasil o maior prontuário eletrônico de saúde pública no mundo”.
Nesse sentido, a ImpulsoGov vem desenvolvendo soluções gratuitas que, amparadas nas bases de dados do próprio SUS, têm utilidade prática para ação na ponta, como no caso da busca ativa de pessoas, com lista nominal, para apoiar os atendimentos das unidades de saúde.
Como essas inspirações se contextualizam com a educação?
A partir das reflexões apresentadas por Beatriz, Mayara e João, a diretora executiva do CIEB Julia Santana propôs uma discussão para os participantes com objetivo de refletir em que medida as experiências compartilhadas dialogam e se conectam com a educação, que como na economia e na saúde, também necessita de infraestrutura pública digital para solução de problemas.
Nesse sentido, Julia destaca que “é preciso utilizar tecnologias digitais para automatizar e otimizar processos administrativos nas secretarias e nas escolas, trazendo eficiência e facilidade de gerenciamento”.
Já Marcelo Perez, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ressaltou que infraestrutura pública digital permite aplicar melhor recursos e simplificar processos complexos. E que para isso, é preciso partir de experiências já realizadas; pensar conexões entre diferentes áreas; pensar dados de forma diferente, estabelecer análise exploratória e garantir uma articulação entre governo, sociedade civil e privado.
Para finalizar, Julia Sant’Anna ressaltou o trabalho da Coalizão Tec Educação, iniciativa liderada pelo CIEB em conjunto com a Fundação Telefônica Vivo, Fundação Lemann, Imaginable Future, MegaEdu e Instituto Natura, como um grande passo na caminhada pelo desenvolvimento de políticas públicas que favoreçam a implementação de uma infraestrutura pública digital na educação, ao potencializar o desenvolvimento integral dos estudantes por meio de adoção qualificada de tecnologia nas escolas públicas e secretarias de educação, com recursos educacionais digitais de gestão e pedagógicos implantados e equipe técnica fortalecida e integrada para ações de inovação.
Próximos passos
O mergulho sobre as experiências de SUS e PIX apontaram caminhos para a integração de indicadores em escala nacional, a partir da construção de soluções digitais que apoiem processos básicos de gestão educacional nas redes públicas de ensino, tais como matrícula e enturmação de estudantes, alocação de professores às turmas e lançamento e gestão de notas e frequências.
A partir das experiências apresentadas e trocas com os especialistas, o Conecte-C demonstrou ser esse um momento propício para intensificar a discussão sobre a construção de um arcabouço que possibilite a integração de políticas e ações educacionais da União, Estados e Municípios, trazendo insumos e aprendizados importantes para a estruturação do Sistema Nacional de Educação.
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Publicado em: Conecte-C, Notícias Gerais