Localizada no bairro Cidade Leonor, na zona Sul de São Paulo, a escola municipal Almirante Ary Parreiras recebe crianças de uma região constantemente afetada por alagamentos, onde falta saneamento básico e sobra lixo descartado em locais impróprios. Os estudantes moram perto de um córrego, em casas de madeira. Em 2016, sensibilizada por essa realidade, a professora de informática Débora Garofalo teve uma inspiração que mudou a vida de seus alunos e também da comunidade: idealizou o projeto Robótica com Sucata, para trabalhar com as turmas de 6º ao 9º ano um projeto de robótica utilizando materiais de sucata.
Tudo começou com aulas nas ruas do bairro, em que a garotada tinha que observar, refletir a respeito e registrar os pontos de lixo e os materiais encontrados. A tecnologia foi uma grande aliada nessa tarefa. Celulares, internet e dispositivos eletrônicos foram usados desde as primeiras atividades de pesquisa de campo até a elaboração final dos protótipos móveis. No início, conta a educadora, os alunos tiveram uma certa resistência ao novo: “Por que fotografar o lixo, me perguntavam, alegando que isso não era ´tarefa escolar`. Mas depois que começaram a ver a sucata se transformando em carrinhos e helicópteros, robôs e máquinas automatizadas, eles se encantaram e se envolveram totalmente na aprendizagem dos conhecimentos que eram necessários para atingir seus objetivos”, conta Débora, explicando que o projeto foi uma iniciativa multidisciplinar.
Foram envolvidas disciplinas de matemática, português, geografia, história, entre outras. “Eles tiveram que estudar a geografia do bairro, a história da região… todo o conhecimento foi aplicado à realidade deles”, diz a professora. O primeiro produto concretizado foi um carrinho movido a balão de ar. Depois, a criatividade ganhou asas: além de carrinhos e robôs, surgiram um aspirador de pó, uma máquina de refrigerante, uma roda gigante, para mencionar apenas alguns.
Débora ressalta um aspecto importante, que ultrapassa a dimensão pedagógica: “O projeto tem ajudado a pensar a escola que não só produza conhecimento, como também traga contribuições locais, gerando responsabilidade social nos alunos e na comunidade”. Desde o início do projeto Robótica com Sucata, a escola já processou cerca de 1 tonelada de materiais reciclados. “A gente lava e pesa tudo. E essas tarefas geram conteúdos de estudo”, esclarece a professora.
Sucesso de público e de crítica, o projeto da Ary Parreiras conquistou apoio de parceiros, que doam placas programáveis, sensores. Mas também fez adeptos. O projeto contribuiu para a implementação da robótica no currículo da cidade de São Paulo. Débora, que faz palestras pelo Brasil afora para disseminar essa boa prática pedagógica, diz que foi até convidada a aplicar uma formação sobre robótica em uma escola da rede estadual.
Já tendo impactado cerca de 2 mil alunos, este ano de 2018 o projeto Robótica com Sucata obteve outro resultado para comemorar: por conta desse projeto, a professora Débora recebeu o prêmio da temática especial Uso de Tecnologia na Educação, oferecido pelo CIEB no âmbito do Prêmio Professores do Brasil.
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